terça-feira, 12 de julho de 2011

sábado, 18 de junho de 2011

Educação On line, Novas Tecnologias e Cultura da Paz

Prof. MSc. Daniel Seidel
Este paper se propõe abordar o tema a partir da análise de três experiências que articulam a tríade: educação à distância, novas tecnologias e construção de cultura de Paz. A partir da breve análise procurar-se-á identificar as constantes a partir de GUIMARAES (2005) e, a partir, daí concluir criticamente acerca das potencialidades existentes no contexto atual para que a Educação on line e as novas tecnologias sejam reconhecidas como importantes ferramentas para edificação da Cultura da Paz.
São elas: 1) a formação permanente de Mediadores (as) de Conflitos (do Vida e Juventude); 2) a educação para paz em dois cursos da Católica Virtual; e 3) a mobilização para aprovação da Lei da Ficha Limpa no Congresso Nacional.
A Formação Permanente em Mediação de Conflitos, do Vida e Juventude, nasceu de dois dinamismos: o projeto-ação da CBJP e uma parceria com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, que proporcionou o encontro, no contexto da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2005 (“Fraternidade e Paz”), do conteúdo acerca de Educação para Paz, do Prof. Dr. Marcelo Rezende Guimarães e da metodologia Psicodramática, a partir da atuação do Prof. MSc. Daniel Seidel, resultando na formatação de um curso presencial de 20h para Capacitação de Mediadores (as) de Conflitos. A sistematização dessa ação resultou na publicação de um livro “Mediação de Conflitos: a solução de problemas pode estar em suas mãos” (2007) e na confecção de um vídeo, de mesmo nome, com um exemplo de um conflito mediado para ampliar a possibilidade de aprendizagem com o recurso audiovisual. O vídeo, a partir das várias demandas, foi transformado em pequenos vídeos, que foram disponibilizados no YouTube1.
O Vida e Juventude, a partir do aumento vertiginoso das demandas de Cursos de Capacitação, desenvolveu uma plataforma de aprendizagem virtual2, em ambiente moodle, aproveitando os recursos tecnológicos e a experiência da docência na Católica Virtual e atualmente, oferece cursos em todo o Brasil, com uma parte presencial e parte em Educação à Distância. Tendo atendido a demandas comunitárias, pastorais e públicas (como por exemplo, para Secretaria de Saúde do DF, Secretaria da Criança e Juventude do Estado do Paraná).
Esta Capacitação continua, atendendo agora a demandas oriundas da Promotoria de Justiça do Guará, em parceria com a SEDEST, por meio do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) do Guará, que atende a demandas de conflitos também da Cidade Estrutural, realizando a formação permanente de mediadores (as), bem como atuando na mediação dos conflitos que são encaminhados pela referida Promotoria.
O segundo relato se refere a duas experiências que o autor realizou na Católica Virtual: a da Pós-graduação em Direitos Humanos3 e Proteção e a do Laboratório de Mediação de Conflitos do Curso de Tecnologia em Segurança e Ordem Pública (TECSOP)4.
A percepção da construção de uma Cultura de Paz, por demanda da SEDH, esteve permeando a construção coletiva e participativa da capacitação das equipes técnicas, gestores públicos e coordenadores das Organizações Sociais que integram as instâncias dos Programas de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas de Morte, que, distribuídos em 17 estados do Brasil, não teriam como participar de forma menos onerosa se não fosse por meio das possibilidades tecnológicas da Educação à Distância. Hoje existem mais de 50 monografias que versam sobre a sistematização das experiências e produção de conhecimento acerca dos Programas de Direitos Humanos, que até então não contavam com fontes acadêmicas para avaliação e monitoramento de seu desenvolvimento. Foram momentos onde a metodologia de interação no ambiente virtual, possibilitou a troca de experiências entre os participantes e com os professores-educadores, construindo saberes e produzindo sistematização da execução dos programas de Direitos Humanos.
Outra experiência que reúne os elementos motivo deste artigo foi a adaptação do curso de capacitação de mediadores para realização dos Laboratórios de mediação de conflitos (LMC) como parte integrante da grade curricular do 3º semestre do TECSOP, na disciplina “Prevenção, Mediação e Resolução de Conflitos”. Os referidos laboratórios (LMC) foram (e são) realizados em três sábados por semestre, com duração de quatro horas em cada sessão. Para atender a cerca de 1100 estudantes-policiais em cada laboratório promoveu-se curso de capacitação de facilitadores para os Laboratórios, realizando-se o ciclo completo de aprendizagem: planejamento-vivencial, realização dos LMC e supervisão da prática dos facilitadores. Cabe destacar que tanto no curso de facilitadores, quanto na disciplina, houve interação mediada por ambiente virtual de aprendizagem, principalmente para sistematização do vivenciado e compartilhamento das aprendizagens realizadas. Neste caso novamente houve a articulação de momentos presenciais e virtuais.
Finalmente, registra-se a terceira experiencia para compartilhar, qual seja a mobilização para conquistar a aprovação da Lei da Ficha Limpa. Várias foram as estratégias utilizadas: vídeo no youtube da lei 98405, distribuição pela internet das fichas de coletas de assinaturas, reuniões mediadas pelo SKYPE, página do MCCE6, mobilização 300 mil assinaturas em 30 dias com confecção de vídeo7, assinaturas eletrônicas pela AVAAZ8, pressão sobre parlamentares por email e telefone. Como resultado, a iniciativa popular recolheu mais de um milhão e seiscentas mil assinaturas e foi aprovada em menos de nove meses no Congresso Nacional, tornando-se a Lei Complementar nº 135/20109, contribuindo para aprimoramento do processo democrático brasileiro.
Nas palavras da Profª Lúcia Avelar, do Instituto de Ciência Política da UnB:
“ Nos desdobramentos do Projeto Ficha Limpa ficou claro o papel da militância digital. A participação política por via digital, ao acelerar a comunicação entre as pessoas, acaba fomentando e ampliando os espaços de debate. Em poucos dias, o apoio se expandiu. Outros “públicos” encontraram interlocução e se identificaram com a proposta. O acompanhamento continua. ”10
Assim, defende-se que essas experiências contribuem para articular um ambiente favorável à Cultura de Paz, porque se colocam, utilizando as categorias desenvolvidas pelo Professor Doutor em Educação para Paz, Marcelo Rezende Guimarães, em seu livro: “Educação para a paz: sentidos e dilemas” (2005) num marco conceitual que aponta para uma transição de paradigmas para compreensão da Paz,
“realizada em seis grandes passos, que consistiriam na passagem de um conceito negativo para um conceito positivo de paz (p. 187), na compreensão de que a paz não é um estado, mas um acontecimento (p. 191), na idéia de que a paz não se caracteriza a partir do conceito de identidade, mas da pluralidade, da multiplicidade cultural (p. 193), na superação da idéia da paz como ordem em favor de uma concepção dialógico-conflitiva (p. 195), na consideração de que a noção de paz não está ancorada na subjetividade, mas se estrutura na relação intersubjetiva (p. 201) e, por fim, na passagem de uma compreensão idealista de paz para um esforço de pensar a paz como um projeto e uma agenda a ser realizada (p. 203)”11(os números das páginas se referem ao livro de GUIMARAES, grifo do articulista).
À página 207, GUIMARAES (2005)12, defende uma “educação para a paz pós-metafísica”, configurada em duas perspectivas: a primeira, como um engajamento concreto numa comunidade pacificista, que encontra sua melhor definição nos círculos de paz; e a segunda, como um exercício da ação comunicativa, que se realiza plenamente nas oficinas de paz.
Finalmente, GUIMARÃES (2005), à página 272, declara:
“(...) a educação para a paz assume uma tarefa de oportunizar possibilidades de debates e pôr a nu esses mecanismos de fascínio e êxtase da violência, isto é, a própria produção cultural da violência e da guerra nos processos cotidianos da sociedade” (GUIMARÃES: 2005, 272).
Destarte, constata-se que as mencionadas experiências preenchem os quesitos para serem compreendidas como experimentos de promoção da Cultura da Paz, justamente porque articulam:
A criação de espaços de debate, onde se realiza o exercício da ação comunicativa, quando o professor-educador articula Fóruns, no ambiente da Educação On Line, onde ocorre a interação entre os estudantes e participantes, tanto no projeto do Vida e Juventude, como na proposta pedagógica da Católica Virtual; e assim também no âmbito do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral; O mesmo acontecendo na vivência dos encontros presenciais ou nos Laboratórios de Mediação de Conflitos, do TECSOP, ou no processo de construção participativa do Curso de Especialização em Direitos Humanos e Proteção;
A promoção do engajamento concreto na construção da Paz, visto que o curso de capacitação em Mediação e os Laboratórios de Mediação de Conflitos alteram profundamente a atitude dos participantes e estudantes diante dos conflitos vivenciados no cotidiano familiar, profissional ou social; assim também ocorrendo com os estudantes da pós-graduação em Direitos Humanos e Proteção a quem se possibilita o repensar de sua práxis nos Programas de Proteção a Vítimas e Testemunhas ameaçadas, reconhecendo os usuários como sujeito de direitos. A ação militante dos homens e mulheres que participaram da mobilização para aprovação da Lei da Ficha Limpa, cuja a história vale a pena conhecer13, materializam o próprio significado de transformar a luta pela paz numa agenda concreta de engajamento que permita fortalecer a democracia no Brasil.
Nesta conclusão, afirma-se a importância de se utilizar as novas tecnologias, bem como a Educação On-Line, como novas estratégias para articular a construção de uma Cultura de Paz, onde se realize a interação entre os participantes dentro dos ditames da ação comunicativa preconizada por Habermas (1987)14, motivando-se para o engajamento nas lutas pela transformação social, a partir do local, todavia com perspectiva da Cultura da Paz, que se realiza a partir do compromisso e da busca de resolução por mecanismos não-violentos dos conflitos da sociedade atual.
1 Confira os vídeos na sequência a partir do primeiro: http://www.youtube.com/watch?v=sOWUJofXTLA, consultado em 17/06/2011.
2 Conheça a página visitando o endereço: http://ead.vidaejuventude.org.br/, consultado em 17/06/2011.
3 Para saber sobre a Pós em Direitos Humanos, acesse: http://www.catolicavirtual.br/index.php/cursos/tecnologia-em-seguranca-publica/?page_id=57&curso=27, consulta realizada em 17/06/2011.
4 Conheça mais sobre o TECSOP, acessando: http://www.catolicavirtual.br/index.php/cursos/tecnologia-em-seguranca-publica/?page_id=57&curso=27, acesso realizado em 17/06/2011.
5 Confira o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=iiHNt6hwzWA, consultado em 17/06/2011.
6 Conheça a página do MCCE: http://www.mcce.org.br/node/13, consultada em 17/06/2011.
7 Assista ao vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=Irs8X_h6REg, verificado em 17/06/2011.
8 Verifique a página da AVAAZ: http://www.avaaz.org/po/highlights--corruption.php, pesquisa realizada em 17/11/2011.
9 Texto integral da Lei disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp135.htm, consulta em 17/11/11
10 Confira artigo na íntegra: “Projeto Ficha Limpa: uma perspectiva para o futuro”, profª Lúcia Avelar, disponível em http://www.unb.br/noticias/unbagencia/artigo.php?id=273, consultado em 17/06/2011.
11 Conforme BOMBASSARO, Luiz Claudio, na Revista da UFRS EDUCAÇÃO, ano XXIX, n. 2 (59), p. 445 – 451, Maio/Ago. 2006, Porto Alegre-RS.
12 GUIMARÃES, Marcelo Rezende. Educação para a paz: sentidos e dilemas. Caxias: EDUCS, 2005, 364 p.
13 Vide artigo de autoria de Daniel Seidel no livro: “Ficha Limpa: interpretada por juristas e responsáveis pela iniciativa popular”, Edipro, 2010, 376p.
14 HABERMAS, Jürgen. Teoria de la acción comunicativa I - Racionalidad de la acción y racionalización social. Madri: Taurus, 1987